segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Um Poeta de Cabo Verde

                   Dimas Macedo
                                                        


                 Filinto Elísio Correia é um dos bons poetas de Cabo Verde, na atualidade. Agente político bastante atencioso, durante algum tempo escolheu Fortaleza como lócus privilegiado da sua pesquisa de campo, e o Mestrado em Administração da Unifor como o nicho acadêmico dos seus estudos de pós-graduação.

              Trata-se de escritor e de artista que sabe ver e sentir com o coração, pois sabe perceber, também, as relações sociais com os quais dialoga e as coisas da política que se tecem entre Cabo Verde e o Brasil.

              Filinto não é um poeta de linguagem tradicional, nem um escritor de estilo burguês que escreve para agradar à elite política de plantão. Na sua escritura, de plano, podemos divisar um poeta na melhor acepção da palavra; e um poeta que sabe colocar os sentidos da vida em rotação.

             As estruturas e os desvios da língua estão, em Filinto Elísio, como em poucos escritores que conheço, mas a estética é o lugar da linguagem (ou o lugar do discurso) para onde converge a sua ação textual.

             Do Lado de Cá da Rosa (Mindelo, Instituto Cabo-verdiano do Livro e do Disco, 1995), O Inferno do Riso (Praia, Instituto da Biblioteca Nacional, 2001) e Das Hesperides (Praia, Universal Frontier, 2005) são alguns dos seus livros de poemas, este último lançado na Bienal do Livro do Ceará, em agosto de 2006.

             Tem sido intensa a sua produção de jornalista e, indiscutivelmente, muito proveitosa a sua verve de cronista e de ficcionista. Seu romance – Outros Sais na Beira Mar (Lisboa, Letras Várias, 2009) – constitui um março da sua criação e da literatura que dialogar com as exigências da modernidade.

             Esse romance, segundo o autor, seria uma espécie de puzzle, onde várias formas de escrita se fundem e se renovam qual um jogo de luzes que se cruzam em busca de uma sinfonia plena de imagens fortes.

             Porém aqui não pretendo comentar o conteúdo desse livro, ainda porque a substância desse livro é a sua forma, aí se destacando a sua dimensão de poeta e de arquiteto da linguagem que elegeu a criação artística como vocação. 

              Releio, com atenção, os poemas reunidos no seu livro – Das Frutas Serenadas (Praia, Instituto Nacional do Livro, 2007) – e neles vejo um passo decisivo na sua trajetória de poeta. Não se trata do coroamento da sua produção de escritor, mas do momento em que a sua linguagem adquire um refinamento estético com que muito há de lucrar a literatura de sua geração. 

               No livro, a linguagem literária dialoga abertamente com a linguagem fotográfica, provocando efeitos cinéticos (e sinérgicos) da mais alta valia. Esse diálogo multicultural é um dos grandes achados desse livro, porque o outro, o maior de todos, decorre das imagens fortes e dos recortes semânticos com que o autor imanta seus poemas.

                Esse recurso já era forte – muito forte mesmo – nas páginas do seu livro anterior, no qual as imagens fotográficas de várias procedências se ampliam em relação à linguagem minimalista e fragmentária de Filinto Elísio.

                Nesse livro perdidamente visual e cênico de Filinto Elísio, o efeito espacial e a composição textual aí subjacente se fazem no sentido da ampliação do discurso literário,  constatando-se aí, sem maiores esforços, excelente expressão poemática. 

              Menos inferno, é claro, para o riso de Filinto Elísio e melhor expansão dos seus recursos literários. Maior claridade e contextura e um mais ampliado campo de visão. 

                Esse retorno de Filinto às suas primeiras formas de pesquisa aproxima o poeta do seu universo simbólico cristalizado em O Inferno do Riso, mas aqui as maneiras de encarar o mundo são outras. É outra a projeção do seu imaginário. E múltiplos aqui, também, a sua abstração e as suas linhas de pesquisa.

                  Das Frutas Serenadas é um livro que nos conduz à existência de um poeta maior, plural nas suas intenções, pleno na sua maturidade e no domínio dos seus recursos expressionais.

Um comentário:

  1. Dimas, Poeta Maior!
    Gostei muito do seu Blog, Achei-o substantivo e comunicativo. Em novembro, estarei provavelmente em Fortaleza, a convite da Bienal Internacional do Livro do Ceará. Penso, nessa altura, levar o meu último livro «Me_xendo no Baú. Vasculhando o U». Se me der a honra da apresentação, seria eu um privilegiado.
    Venha daí aquele abraço de sempre.
    Filinto

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