sábado, 9 de março de 2013

Acerca de Luiz Gonzaga

                  Dimas Macedo
                                                          
               
           O Brasil profundo, marcado pelo traço mestiço, pela paisagem áspera e, às vezes, exuberante de suas florestas e cerrados, é o que nos dá o sentido de nação, é o que nos garante a continuidade em termos de País. Do sertão nordestino sempre brotaram as suas inteligências supremas, muito mais do que dos campos gerais ou da civilização material que se armou na região Sudeste.

            Do Nordeste emergiram a criação literária de José de Alencar; o teatro de Nelson Rodrigues; as representações da religiosidade popular; a poesia universal de Patativa do Assaré; o gênio absoluto de Celso Furtado e de Luiz Gonzaga.

            Este último universalizou a sonoridade sertaneja, deu voz e representação às nossos clamores, às nossas belezas naturais e às nossas contradições, criando ritmos musicais de grande ressonância e fazendo do gosto popular o cardápio que a nação passou a consumir.

               Luiz foi bastante louvado em 2012 – ano do seu centenário –, mas não da forma como Dideus Sales e Audifax Rios o fizeram, os quais, valendo-se da escritura e da gravura, transformaram o Rei do Baião numa grande epifania artística, materializada no livro: Luiz Gonzaga – Muito Além de Um Sanfoneiro (Fortaleza, Edições Gente de Ação, 2012).

              O livro, que surpreende pelo projeto gráfico e pelas belíssimas ilustrações de Audifax, traz orelhas de Barros Alves e apresentação de Edmilson Caminha, para quem Luiz Lua Gonzaga foi “um artista notável, um homem simples e bom, que, pela vida que viveu e pela obra que deixou, engrandece o Brasil e continua a falar ao coração do povo”.

             “Sanfoneiro insuperável e cantador inconfundível”, Luiz Gonzaga continua a desafiar o Brasil, talvez na mesma proporção em que a sua música transpõe as nossas fronteiras e começa a tocar o coração do mundo. Ouvir “Asa Branca” em indiano, inglês ou japonês é sentir o quanto as vozes do Nordeste nos orgulham.

              As estrofes de Dideus, em forma de setilhas, construídas a partir de rimas abraçadas, formado uma coroa de versos escandidos,  são um testemunho da sua erudição de poeta maior, e de escritor que sabe a arte do repente e a grande simetria das formas.

          No livro, o Nordeste e a sua fauna, a sua flora, as suas personagens e a sua religiosidade convivem com a aspereza das suas mutações ambientais, e essa dimensão do nosso sertão adusto e ressentido nos é fornecida pelo traço incomparável e pelo talento de Audifax Rios.

               Trata-se, pois, de projeto gráfico que engrandece o Ceará e que bem alto expõe a musicalidade e a vida do Rei do Baião, a sua virtuose, as suas agruras e esperanças, e a sua maneira muito apaixonada de viver. 
















5 comentários:

  1. As gerações atuais, infelizmente, pouco reconhecem a rica produção intelectual, literária, musical e cultural do nordeste brasileiro. Além do talento impressionante de Luiz Gonzaga e da poesia de Patativa do Assaré e de outras referências nordestinas citadas no texto acima, há as ideias de Ruy Barbosa e de Paulo Freire, os escritos tão traduzidos de Jorge Amado... enfim expressões de infinitas riquezas que são ofuscadas por certo preconceito ou aversão do que provém dessa região que já foi tão explorada na "terra brasilis". Ademais que o toque da sanfona de Luiz Gonzaga inspire muitos outros talentos, como aconteceu com Dominguinhos, e que a rica influência nordestina na formação do povo brasileiro chegue aos conhecimentos de quem profere tantos comentários absurdos sobre a pouca importância do nordeste e/ou dos nordestinos para o país.

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  2. Roberta Falcão, somente hoje, 26/4/2013, estou lendo o seu belo e bem articulado comentário acerca da minha pistagem sobre Luiz Gonzaga. Quero destacar a consciência crítica e cultural que você desvela no seu comentário. Parabéns. Dimas Macedo.

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    1. Obrigada professor! Continue escrevendo mais textos em seu blog, é um belíssimo e importante trabalho.

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  3. Luiz Gonzaga, grande compositor brasileiro e um dos melhores representantes da música e da arte populares, tem ganhado bastante notoriedade no cenário nacional e, até mesmo, internacional, sobretudo diante do seu centenário, que inspirou, inclusive uma excelente produção no meio da Sétima Arte.
    Cidadão natural de Exu, Luiz Gonzaga inspirou-se em sua terra para cantar suas dificuldades, as quais não eram exclusivas dele, mas pertencentes a todos aqueles que experienciam a vida árida e sofrida do sertão nordestino.
    Grande talento musical trouxe a esse icônico artista a denominação de "Rei do Baião", que, com toda a sua maestria, transmitiu e continua transmitindo, cada vez mais, a cultura popular nordestina ao Brasil inteiro.
    Tais aspectos culturais compõem a identidade de nossa nação, contribuindo para a manutenção do sincretismo brasileiro e assim, fortalecendo a diversidade, a qual nos torna um povo "imortal" na perspectiva sociocultural.
    Além dessa importante função cultural, Luiz Gonzaga traz relevância ao Nordeste, destacando uma outra perspectiva de um povo tão sofrido: uma perspectiva de talento, musicalidade e representação nacional. Traz, assim, um enfoque bastante obliterado diante de inúmeros preconceitos (linguísticos, sociais, culturais...) vivenciados por esse povo, sobretudo, ocasionados pela Região Sudeste.
    Portanto, podemos considerar que é por meio da obra de Luiz Gonzaga que o Nordeste e o Brasil manifestam sua identidade, sua vida; afinal que identidade possui os habitantes de um país sem cultura? sem tradição? São tais aspectos que conferem a nós, brasileiros, a riqueza e o brilho da cultura e da identidade, tão diversificadas e características de nosso povo.
    Tal diversidade é protegida por nossa Carta Magna, ao explicitar em seu artigo 5°, inciso IX, a liberdade da expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença, ressaltando, pois um dos direito fundamentais que alicerçam nosso Estado Democrático de Direito.
    Em suma, é com Luiz Gonzaga e outros grandes artistas brasileiros como José de Alencar, Nelson Rodrigues e Patativa do Assaré; que a alma e, consequentemente, a identidade brasileira permanecem vivas, contribuindo, assim para o desenvolvimento e o progresso culturais e artísticos de nossa nação, cada vez mais notória no cenário internacional.

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  4. Monalisa Gadelha, muito rico e interessante o seu comentário sobre o Mestre Luiz Gonzaga. Bom na letra, bomo no conteúdo. Um Grande abraço.

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