terça-feira, 8 de abril de 2014

Reflexões Sobre o Poder Militar

                 Dimas Macedo

 

         A questão do poder militar na América Latina e, de uma maneira geral, nos países do Terceiro Mundo, se até hoje não justificou a sintomática razão de sua emergência, pelo menos serviu para testemunhar a ineficiência de suas propostas.

        Livros como A Ordem Política nas Sociedades em Mudança (Rio, Editora Forense-Universitária, 1975), de Samuel Phuntington, tentaram mas parece que não conseguiram interpretar a presença do soldado como consolidador de instituições.

        Posteriormente, Alain Rouquié, com O Estado Militar na América Latina (Berkeley, Universidade da Califórnia, 1987), procurou estudar o assunto através de novas abordagens, e com isso logrou melhores resultados. Alain não se preocupou propriamente com a transparência das Forças Armadas, mas com as condições que propiciam o avanço dos militares como elite ou núcleo do poder.

       Contudo, apesar de não haver oferecido maiores soluções para o problema, Samuel Phuntington, entre todos os estudiosos do assunto, foi quem melhor apreendeu a função pretoriana de que os militares sempre se acharam investidos.

        Num dos capítulos do seu livro acima referido, sem perder de vista a perspectiva pretoriana das forças armadas, Samuel Phuntington tentou interpretar algumas circunstâncias que gravitam em torno da ocupação do poder pelos militares, nos países em via de modernização.

       O Estado Pretoriano, para Phuntington, não é apenas aquele no qual se dá a intervenção dos militares na política. Para ele, o pretorianismo igualmente se difunde nas sociedades onde se processa uma politização geral das forças e instituições sociais, tais como o clero, a elite latifundiária ou a classe trabalhadora.

      O pretorianismo, das suas origens aos dias atuais, expandiu as suas manifestações através de diversas investidas. Foi inicialmente oligárquico, depois radical e, por último, evoluiu ou transitou para o chamado pretorianismo de massa.

       A sua presença, a história dos últimos dois ou três séculos, pode ser facilmente constatada na América Latina, que foi sempre cenário de marchas e contramarchas pretorianas, levadas a efeito, no século XIX, principalmente, para preencher a vacância do imperialismo, na oportunidade, afastado do Continente pelos processos de independência política e, no século XX, para consolidar os anseios de uma classe média emergente, ou para atender às exigências de alguns fenômenos populistas que aqui ousaram se instalar.

       Nos países em vias de modernização, o pretorianismo se instrumentaliza como força social emergente capaz de deter o enfraquecimento das instituições, enfraquecimento no qual esses países se acham mergulhados.

        O objetivo principal do pretorianismo seria resgatar o País da chamada “decadência política” e, com isso, aumentar o seu grau de politização; seria fortalecer as instituições políticas existentes ou criar novas instituições capazes de mudar o curso do processo político e social.

         Propõe-se sempre legítimo o pretorianismo, mesmo quando o grupo renovador não encarna o mínimo de representação, a exemplo de alguns segmentos militares comandados por oficiais menos graduados. A sua legitimidade confunde-se com as aspirações ideológicas de caráter antidemocrático, isto é, com os interesses dessas aspirações.

         Se se busca enxergar no pretorianismo uma instituição preocupada com problemas econômicos e sociais, está-se a laborar em lamentável engano. O que o que ele busca é a comprovação da sua estratégia ideológica e dos seus mecanismos de controle e dominação.

     Durante a década de 1980, alguns estudiosos da nossa formação buscaram projetar luzes acerca do pretorianismo no Brasil, mas o que revelaram aos leitores foi a constatação de uma vontade de potência e de intervenção por parte desses estamentos militares, numa argumentação que parece apontar, nas forças armadas brasileiras, um permanente desejo de controle da nossa transição, aspirando também que a sociedade, agora fortemente conscientizada, não se possa voltar contra o seu agressor.

    Procurando estudar a intervenção militar brasileira à luz de diversas tendências políticas, o que os nossos estudiosos geralmente nos tem revelado é que o poder militar pretoriano somente encontra a razão de sua ressurgência dentro de padrões comportamentais tomados de empréstimo à ciência política, e nesta hipótese, me parece, estaria incluído o caso do Brasil.

     Mas o Brasil, finalmente, amadureceu no exercício da vida democrática e na consolidação das suas instituições, de forma que o poder militar, no Brasil, está seguramente submetido à Constituição, e não à ideologia da tradição e ou propriedade, não me parecendo plausível que as suas intenções possam prosperar, por maior que seja o nosso conflito político.

      O Brasil, no momento, passa por ajustes econômicos, pertinentes à acumulação do capital e à expansão dos seus potenciais financeiros, numa política de mercado na qual a nossa forma primitiva de fazer política e de ampliar a máquina do Estado não se compadece com os avanços do nosso crescimento. E neste ponto o Brasil precisa de ajustes, e não de apelos saudosistas que nos levem de volta para a ditadura militar.

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