domingo, 25 de maio de 2014

Fagundes Varela e Outros Rabiscos

             Dimas Macedo



                Entre os primeiros livros de Joaryvar Macedo, tenho preferência por um deles: Fagundes Varela e Outros Rabiscos (Crato: Empresa Gráfica Ltda, 1978). Trata-se da reunião de vários escritos literários, e aí encontrará o leitor alguns perfis de escritores que exerceram, sobre ele, no início da sua formação, uma influência memorável. 

              Nesse seu conjunto de ensaios, além do perfil de Fagundes Varela, destaca-se uma síntese da sua monografia de pós-graduação, na Universidade Católica de Salvador, sobre a obra de Irineu Pinheiro e seu significado para a historiografia cearense.

             Nesse historiador caririense, descobriu Joaryvar Macedo a metodologia e os aportes da nova historiografia, sendo Irineu Pinheiro, indiscutivelmente, o seu grande Mestre na área da pesquisa histórica regional.

             Como poeta, Joaryvar Macedo foi um grande nostálgico e um apologista do sentimentalismo romântico vinculado à tradição literária, porém, nenhum escritor brasileiro do passado, exerceu tanta sedução sobre ele quanto o autor de “Cântico do Calvário”. 

             Quem leu os seus sonetos à antiga, recolhidos no livro de estreia – Caderno de Loucuras (Crato: Empresa Gráfica Ltda, 1965) –, deve ter percebido porque Fagundes Varela passou a ser o poeta preferido de Joaryvar Macedo, que pranteou, como poucos poetas que conheço, a sua emoção de místico e de esteta e a sua solidão amorosa.

             Fagundes Varela, contudo, não foi o único escritor da fase romântica a despertar a curiosidade de Joaryvar Macedo. José de Alencar também chamou à sua atenção, como ficaria patente, seis anos depois, quando o autor de Os Augustos (1971) publicou – O Talento Poético de Alencar e Outros Estudos (Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1984).

             Em Fagundes Varela e Outros Rabiscos, Joaryvar apresenta o primeiro desdobramento das suas pesquisas sobre a produção literária do seu pai, o grande poeta popular lavrense, Antônio Lobo de Macedo, reconhecendo a minha participação no processo de resgate desse cordelista.

             Dissertando sobre a obra do poeta juazeirense Manuel Ludgero, Joaryvar revela-nos os primórdios da literatura caririense, mostrando-nos as raízes da sua formação e a ressonância da poesia de Ludgero na vida social daquela comunidade, nos albores do século dezenove.

             Ao lado dos poetas Lobo Manso e Manuel Ludgero, Joaryvar Macedo põe em relevo, nesse seu livro, a poesia de Maria Arnaldina de Alencar, natural de Araripe, a qual cantou as belezas do Cariri cearense como poucos escritores dessa região.  

             Outro capítulo que ponho em destaque nesta resenha, é aquele relativo à contribuição de Soriano Albuquerque para a cultura e as letras caririenses, no qual o autor mostra-nos a sua erudição e o seu talento de pesquisador e sociólogo, ao examinar a obra daquele que é considerado o Pioneiro da Sociologia do Brasil.

              O ensaio dedicado ao médico e jornalista Otacílio Macedo constitui o mais refinado entre os textos que compõe esse pequeno livro. Otacílio Macedo, enquanto jornalista, destacou-se pela sua entrevista com o Rei do Cangaço, porem antes desse texto de Joaryvar, poucos conheciam a sua dimensão intelectual e a sua cultura científica.

              Pesquisador da literatura cearense, e não apenas da cultura da sua região, no capítulo final do seu livro, Joaryvar revela-nos a autoria de uma das letras mais conhecidas do nosso cancioneiro: “A Pequenina Cruz do Teu Rosário”, atribuindo-a ao poeta Fernando Weyne, com argumentos e verificação apodítica que chamam de plano a atenção.

              Publicado após o seu triunfo de genealogista, em meados da década de 1970, esse conjunto de ensaios de Joaryvar Macedo, sempre me tocou de uma forma muito especial. Poucos perceberam, na época, que o autor de Império do Bacamarte (1990) havia mudado de tom, e que ali estava nascendo um dos maiores ensaístas do Ceará.

               Fagundes Varela e Outros Rabiscos (1978), ao lado das coletâneas: O Talento Poético de Alencar e Outros Estudos (1984) e Na Esfera das Letras (2010), compõe o terceto de livros de ensaios literários de maior destaque na produção de Joaryvar Macedo.

                É livro, portanto, que merece reedição e que precisa ser conhecido pelas novas gerações, especialmente pelos que pensam que Joaryvar Macedo foi apenas um historiador, e esquecem que ele foi um dos nossos melhores escritores e o genealogista nordestino de maior destaque em todo o Brasil.
 


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