quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Fideralina - A Matriarca de Ferro

Dimas Macedo


           A poesia popular do Nordeste é uma das grandes expressões da cultura brasileira. Se diferencia da poesia erudita pelo acento melódico da sua sonoridade. Destaca-se por ser uma poesia rematada e escandida, e por ser uma forma de criação literária que se vale da metrificação e da rima, e da riqueza do vocabulário.

          Pertence a Poesia Popular ao gênero do Cancioneiro e das Cantigas de Gesta que exaltavam os guerreiros na Idade Média. Daí, o seu sentido heroico, a sua construção ritmada e a sua aproximação com o armorial, que é a cultura popular elevada ao plano da erudição.

          O folheto de cordel e a cantoria distinguem-se na área da poesia popular: o primeiro, caracteriza-se pela reportagem, o resgate da memória e a glorificação dos feitos e personagens de valor histórico; já, a cantoria, possui no repente e no improviso os elementos da sua força criadora.

        Geraldo Amâncio tem se destacado, no Ceará e no Nordeste, como um dos nossos melhores cantadores e como um dos pesquisadores mais respeitados da nossa poesia popular.
         Viajou pelo Brasil e o mundo em busca de um mesmo sentido: o som das cantorias, as suas formas armoriais e os traços essenciais da sua expressão em diversos países. Mas eis que sempre retorna ao seu velho torrão – o Ceará.

         Geraldo tem dezesseis discos gravados, incluindo várias parcerias, e alguns livros publicados, dentre eles, enumerando-se os seguintes: De Repente Cantoria, A História de Antônio Conselheiro, Cantigas que Vêm da Terra, Gênios da Cantoria e Assim Viveu e Morreu Lampião, Rei do Cangaço.

          No seu livro O Beato José Lourenço, o Caldeirão e a Matança dos Romeiros (Fortaleza: Prêmius, 2017), com o seu talento de poeta, Geraldo Amâncio resgatou um dos episódios mais desumanos da história do Nordeste, que foi a destruição da comunidade do Caldeirão pelas forças reacionárias da nossa elite política.

          Agora, voltando-se mais uma vez para região do Cariri, Geraldo Amâncio conta a história da conhecida coronela de Lavras da Mangabeira, cujo perfil biográfico foi por mim tracejado em Dona Fideralina Augusto – Mito e Realidade (Fortaleza: Armazém da Cultura, 2017).

          No seu novo livro, Fideralina Augusto – A Matriarca de Ferro (Fortaleza: Expressão Gráfica, 2018), Geraldo Amâncio escreve o poema mais expressivo do cancioneiro de Dona Fideralina Augusto, mostrando-nos que a sua trajetória e as suas ousadias deram-lhe, com certeza, uma tradição memorável.


           Trata-se de livro arquitetado com a erudição e o talento de um grande poeta, cujo repente o eleva nas páginas da nossa história literária, celebrando, de último, a memória de Fideralina Augusto, a nossa Matriarca de Ferro, que tanto de projetou na história política do Brasil.

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